domingo, fevereiro 17, 2008


Passa uma borboleta
por diante de mim

E pela primeira vez
no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor
nem movimento,

Assim como as flores
não têm perfume nem cor.

A cor é que tem cor
nas asas da borboleta,

No movimento da borboleta
o movimento é que se move,

O perfume é que tem perfume
no perfume da flor.

A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

Alberto Caeiro

sábado, fevereiro 16, 2008

A Paz e a Lua


Eu quero a Paz, a grande Paz
da Lua sozinha no céu.
A paz sem a menor lembrança,
a paz de quem nunca viveu.

A Paz que reina nos domínios
onde não há musgos nem germes.
E não há sulcos nos caminhos.
E há seiva debaixo da neve

A Paz sem devaneios, dentro
dos seus nítidod horizontes.
A Paz dos cristais no silêncio
sem nenhuma idéia de som.

A Paz que precedeu as sombras,
a que antes das tréguas nasceu.
A que nos tempos não se encontra,
a que foi desejo de Deus.

Eu quero a Paz com perfeição
de flor e orvalho, eu quero a Paz
ao alcance das nossas mãos,
com a substância e as cores do nácar.

Porém eu quero a Paz acima
de qualquer sopro humano- ou mácula.
Com delicadezas de vime
guardada de todo contato.

Assim como a Lua sem noite
e sem espaço, de tão leve,
miragem que se desvanece
em frente ao anjo anunciador.

A Lua sem anjo ou demônio,
alheia aos mares que descobre
no caminho da solidão
para lá da vida e da morte.
Eu quero a lua toda pura,
a lua sem vendas nos olhos.
Enquanto a Terra em febre estua,
a Lua completa- e não cora.


Lisboa, Henrique

sexta-feira, fevereiro 08, 2008