terça-feira, agosto 28, 2007

Nos Bosques


Nos bosques,
perdido, cortei um ramo escuro
E aos labios, sedento,
levante seu sussurro:
era talvez a voz da chuva chorando,
um sino quebrado ou um coração partido.
Algo que de tão longe me parecia oculto gravemente,
coberto pela terra,
um gruto ensurdecido por imensos outonos,
pela entreaberta e úmida treva das folhas.
Porém ali, despertando dos sonhos do bosque,
o ramo de avelã cantou sob minha boca
E seu odor errante subiu para o meu entendimento como se,
repentinamente, estivessem me procurando as raízes que abandonei,
a terra perdida com minha infância,
e parei ferido pelo aroma errante.
Não o quero, amada.
Para que nada nos prenda,
para que não nos una nada.
Nem a palavra que perfumou tua boca
nem o que não disseram as palavras.
Nem a festa de amor que não tivemos
nem teus soluços junto à janela...

(PAPLO NERUDA)
- (1904-1973)
Do Livro Cem Sonetos de Amor
- Pág.12

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Olá,legal vc ter aparecido,comente sempre,bjs iluminados!!!